FIB e O OCIDENTE - palestra de Michael Pennock

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Michael Pennock, Diretor do Observatório para Saúde Pública em Vancouver, Canadá, e consultor sobre o Índice de Genuíno Progresso no Canadá. Consultor para as nações Unidas no desenvolvimento dos indicadores do FIB no Butão, e coordenador da colaboração internacional na implementação do FIB.




FÓRUM MUNDIAL DE ISTAMBUL
Junho de 2007: Medindo e Encorajando o Progresso das Sociedades
• OECD
• Comissão Européia
• Organização Para a Conferência Islâmica
• Nações Unidas
• Banco Mundial

Em junho de 2007 uma importante conferência aconteceu, contando com a participação algumas das mais conhecidas organizações internacionais. A conclusão foi o reconhecimento da urgente necessidade de noções mais compreensivas e equilibradas sobre o que é progresso.


DECLARAÇÃO CONJUNTA CONFIRMADA
“Comprometimento para medir e encorajar o progresso das sociedades nas suas dimensões, e de apoiar iniciativas ao nível do país. Instamos para que IPOBE, organizações públicas e privadas, e especialistas acadêmicos trabalhem junto com os representantes das comunidades para produzir informações de alta qualidade, baseadas em fatos, que possam ser usadas por toda a sociedade, para formar uma visão compartilhada do bem estar da mesma, e sua evolução ao longo do tempo. Convidamos tanto as organizações públicas quanto privadas para que contribuam com esse ambicioso esforço de fomentar o progresso do mundo, e damos as boas-vindas às iniciativas em níveis local, regional, nacional e internacional”.

A conferência resultou numa declaração conjunta, enfatizando a necessidade de novas estruturas e medidas de progresso – em níveis locais, regionais, nacionais e internacionais. Que organizações tais como a OECD e o Banco Mundial tenham reconhecido as nossas tradicionais limitações de progresso é, provavelmente, a admissão da seriedade dos problemas que enfrentamos. Reconheceu-se que nossa dependência em tais medidas econômicas do tipo do PIB – Produto Interno Bruto – como sendo um dos principais sinalizadores de progresso, é uma prática que precisa ser alterada.



AUMENTO DA RENDA, DECLÍNIO DA FELICIDADE
Nos últimos anos, mesmo com o aumento do PIB em vários países, o percentual de canadenses que relata estar muito satisfeito com suas vidas não tem se alterado. E nos EUA e na Inglaterra, dois dos mais próximos parceiros internacionais do Canadá, o percentual de pessoas que admitiu estar muito satisfeito com a vida declinou durante o período.

Em muitos dos países desenvolvidos…
A prosperidade aumentou
O capital social diminuiu
Bem-estar/felicidade não aumentou
E….
Ocorreram imensos custos ambientais na busca pela prosperidade

Logo, algumas conclusões ficam evidentes: em alguns dos países desenvolvidos, nossa prosperidade tem aumentado ao mesmo tempo em que o capital social tem se deteriorado, e a felicidade permaneceu achatada ou declinou. Essas tendências são particularmente devastadoras se for considerada a “taxa” que foi cobrada pelo progresso no meio-ambiente.



ECONOMISTA JOHN HELLIWELL: FATORES DETERMINANTES PARA O BEM-ESTAR
O economista John Helliwell, da Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá, em 2003 concluiu que pessoas com o mais alto bem-estar “não são aquelas que vivem nos países mais ricos, e sim aquelas que vivem onde as instituições sociais e políticas são eficazes, onde a confiança mútua é alta, e onde a corrupção é baixa”. Ele conclui que são esses os mais importantes fatores determinantes para o bem-estar nacional, mais do que a prosperidade nacional.



POR QUÊ ESSA CRENÇA?
Por quê essa crença que liga prosperidade a bem-estar é tão profundamente arraigada?
Se a correlação entre prosperidade e bem-estar foi super-estimada, por quê isso aconteceu?



ILUSÃO QUE FOCA
• Daniel Kahneman-Universidade de Princeton
• “Quando as pessoas consideram o impacto de qualquer fator isoladamente no seu bem-estar – não apenas renda – elas são propensas a exagerar a importância da mesma. Nos referimos a essa tendência como a “ilusão que foca”…. A despeito da frágil relação entre renda e satisfação geral com a vida ou a felicidade experienciada, muitas pessoas são altamente motivadas a aumentar sua renda.”

O psicólogo Daniel Kahneman, da Universidade de Princeton, ganhador de um Prêmio Nobel de Economia denominou isso de “Ilusão que Foca”. Kahneman argumenta que tendemos a ignorar todos os demais fatores que estão presentes na nossa vida (sejam eles “bons” ou “maus”) quando consideramos os efeitos como fatores isolados, tais como um aumento na renda. Por exemplo, um aumento na renda pode implicar em ter que se trabalhar por mais longas horas, lidar com conflitos de família x trabalho, redução na vida social etc. Ao se focar nos benefícios de “mais renda” podemos ignorar esses efeitos em outros fatores até que estes passem a afetar negativamente nossas vidas.



O QUE FOI QUE APRENDEMOS?
A partir de um certo ponto, em muitas nações desenvolvidas, aumentos em prosperidade não trazem aumentos em felicidade e bem-estar.
Parecem corresponder a uma diminuição do capital social
E também envolvem substanciais conseqüências ambientais
PRECISAMOS REPENSAR NOSSAS NOÇÕES BÁSICAS DE PROGRESSO
Mas então o que foi que aprendemos disso tudo? Aprendemos que, a partir de um certo ponto, na maioria dos países desenvolvidos, um aumento na prosperidade não está associado com aumento de felicidade e bem-estar. Contudo, está associado com diminuição de capital social e implica numa substancial degradação ambiental.



O PIONEIRO BUTÃO
Felizmente temos um pioneiro – o Butão. Ocorre que este é um tema que já recebeu sistematicamente muita atenção naquele pequeno país. Lá eles começaram a fazer essa pergunta, e a buscar respostas, há cerca de vinte anos. Como resultado, os butaneses estão bem na dianteira quando comparados com o resto do mundo.



ESTRUTURA CONCEITUAL DO FIB
O FIB foi articulado através de 3 conferências que reuniram economistas e cientistas empíricos para identificar os principais determinantes da felicidade

Essa convocação foi assumida pelo Centro dos Estudos do Butão. Fomos muito afortunados por isso acontecer, porque o diretor do centro, Dasho Karma Ura, estava determinado a imprimir uma abordagem totalmente científica na identificação dos fatores primordiais que contribuem para a felicidade e o bem-estar da população do seu país. Tem até havido conferências internacionais que reuniram estudiosos e pesquisadores empíricos do mundo todo, para que fosse desenvolvida uma estrutura baseada em evidências. E aqui eu realmente gostaria de enfatizar o seguinte ponto – a estrutura conceitual do FIB não é um constructo religioso. Trata-se sim de uma estrutura baseada na ciência e no empirismo. Quanto a isso precisamos agradecer o Dasho Karma Ura e o Centro dos Estudos para o Butão, pois, na medida em que nós, ocidentais, estamos buscando melhores estruturas conceituais para o progresso, agora podemos nos apoiar no trabalho que já foi feito por eles.



NA INGLATERRA
políticas especificamente focadas no “bem-estar”
“Um foco no bem-estar encoraja a integração das políticas social, econômica e ambiental que permitam a saúde social ser examinada como algo em si mesma, em vez de ser incluída sob o crescimento econômico”.

Um dos países ocidentais que assumiu um compromisso muito sério com esse tema, envolvendo até os escalões mais elevados do governo, é a Inglaterra. Os ingleses articularam um foco de política pública voltado para o bem-estar. Em outras palavras, todas as políticas públicas precisam ser ponderadas em relação aos seus respectivos impactos no bem-estar.



BENEFÍCIOS DO FIB
Um novo modelo de progresso que fornece uma estrutura de política pública unificada, e que acomoda todos os setores
Enfatiza o equilíbrio entre todos os fatores contribuintes, mas a felicidade tem a primazia
Nenhum dos setores é priorizado em relação aos demais, todos têm fatores determinantes de valor


De modo que eu argumentaria que a estrutura conceitual do FIB tem um enorme valor para as políticas públicas em geral. Trata-se de um novo modelo de progresso que provê uma estrutura unificadora para as políticas públicas. Ela enfatiza a necessidade de um equilíbrio entre todos os fatores contribuintes e setores, e também fornece um bem sistemático pano de fundo, contra o qual as políticas públicas podem ser avaliadas quanto a sua contribuição ou não para a felicidade e o bem-estar.



PRECISAMOS DE MENSURAÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS
Objetivas: Observáveis, contabilizáveis
Subjetivas: Levantamento de FIB



ÍNDICE CANADENSE DE BEM-ESTAR

Um outro exemplo é Índice Canadense de Bem-Estar (ICBE), que atualmente está sendo desenvolvido. O objetivo desse índice é o de vir a ser um indicador nacional que incorpore tanto os dados objetivos como subjetivos. As dimensões empregadas são de certo modo diferentes do Indicador de Genuíno Progresso (IGP). O ICBE tem uma dimensão ambiental (saúde do ecossistema) e um forte foco na saúde, no capital social e na cultura. Como leitor poderá avaliar, o ICBE se assemelha mais à estrutura conceitual do FIB.



VERSÃO INTERNACIONAL DO FIB
Mais curta para ser preenchida (30 minutos)
Genérica – trans-cultural
Baseada no levantamento butanês
Incorpora lições aprendidas do levantamento GPI-Atlantic na Nova Escócia

Uma versão internacional do levantamento está sendo desenvolvida. Ela baseia-se na estrutura conceitual do FIB, usa muitos dos principais itens do levantamento butanês, e também incorpora algumas lições aprendidas a partir do uso de um levantamento semelhante, que foi desenvolvido pelo IGP Atlantic (Índice de Genuíno Progresso do Atlântico), e usado em duas comunidades na Nova Escócia. Essa versão pode ser auto-gerida, é transcultural, e leva apenas de 20 a 30 minutos para ser preenchida.



PRÓXIMOS PASSOS
Lentes de política pública para estimar o impacto de potenciais políticas na felicidade/bem-estar da sociedade
Avaliações quanto aos impactos da felicidade
Desenvolvimento de mensurações objetivas em níveis nacionais e locais

Pelo fato do FIB incluir medidas subjetivas, existe um contínuo interesse no desenvolvimento de outras ferramentas para política pública, tais como lentes e métodos para conduzir avaliações de impacto.



O QUÊ ESTÁ ACONTECENDO?
Butão – CEB e Comissão do FIB
Canadá – Medidas feitas em Comunidades e ICBE
Tailândia – Avaliação de Impacto na Saúde
Inglaterra – Avaliação de Impacto no bem-estar mental
Brasil...?

E o que precisamos fazer? Penso que estamos no início de um período muito estimulante. Precisamos desenvolver e usar ferramentas que meçam o bem-estar ou a felicidade, bem como seus respectivos fatores contribuintes. E precisamos medi-los nos níveis nacional, regional e local, se é que estamos dispostos a mobilizar a capacidade das comunidades de apoiar novas direções para o desenvolvimento. E precisamos de ferramentas de política pública, tais como “lentes de política”, que possam ser usadas para fazer avaliações de impacto na felicidade, de modo que possamos ser mais competentes ao assegurar que tais políticas irão de fato promover a felicidade. Existem alguns bem interessantes “começos” que estão sendo deflagrados ao redor do mundo, mas, como disse, são apenas “começos”. Precisamos trabalhar em conjunto, para gerar suficiente impulso, e com isso manter esse movimento avançando.



MAIS DO QUE TUDO....
Precisamos de colaboradores internacionais, para que todos possamos aprender uns com os outros
E promover o FIB dentro das nossas jurisdições












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