Discurso de Abertura pelo Sr. Exmo. 1º Ministro do Butão, Jigmi Y. Thinley, na 4ª Conf. Internacional sobre FIB :
Distintos participantes, amigos e colegas,
É com grande honra e prazer que me encontro aqui com vocês, nesta manhã, para a abertura da 4ª Conferência Internacional sobre FIB. Proporciona a mim e aos meus colegas no governo um imenso prazer nos darmos conta de que tantas distintas pessoas, de tantos diferentes países, consideraram que valeria à pena participar desta conferência. 25 nacionalidades estão hoje aqui representadas. Receber esses nossos colegas peregrinos na busca de um mundo melhor através do FIB nesta época do ano é de especial significância para nós. Este ano é de extraordinária importância para a história do nosso país, que se tornou a mais recente democracia parlamentar no mundo, após 257 anos de governança teocrática, embora como um sistema dual, e 100 anos de uma dourada era sob uma monarquia. Foi provavelmente uma das mais pacíficas transições para a democracia. A singularidade dessa transição é de que ela não veio através da vontade do povo, mas sim pela vontade do Rei, cujo abnegado amor e confiança pelo seu povo o levou a convencê-los de que o destino do país deve repousar nas mãos do povo em si, e não depender de um único indivíduo.
Neste meu mandato, começamos a nossa ardente jornada de combinar democracia e FIB. Estamos nos comprometendo a assegurar que a confiança dos nossos reis no seu povo, e a confiança do povo em nós, os eleitos, não seja traída. Fizemos a promessa de consolidar e fortalecer as condições que irão possibilitar que cada cidadão encontre a felicidade.
Vocês aqui chegaram logo após a coroação de sua majestade o Rei Jigme Khesar, como o quinto Druk Gyalpo. A coroação de sua majestade tem um especial significado para o FIB, pois sua majestade e o seu reino personificam o FIB. O Rei enfatizou a promoção do FIB como sendo sua responsabilidade e prioridade, como tornou isso claro no seu discurso de coroação,
“..... quaisquer que sejam as metas que tenhamos – e não importa o quanto essas metas mudem neste cambiante mundo – em última instância, sem paz, segurança, e felicidade, nada temos. Essa é a essência da filosofia da Felicidade Interna Bruta. Eu também rezo para que, enquanto for o rei de uma pequena nação no Himalaia, possa, durante o meu reinado, fazer muito para promover o maior bem-estar e felicidade de todas as pessoas neste mundo – de todos os seres sencientes”.
O Butão foi, mais uma vez, abençoado com um grande Rei, que é compassivo e sábio. Seu comprometimento com o FIB se baseia numa profunda compreensão da filosofia, e da convicção de que é através disso que o seu povo pode ser melhor servido. O FIB não poderia ter encontrado um melhor defensor e patrono, e esta conferência não poderia estar acontecendo em melhor hora.
Felicidade Interna Bruta enquanto meta e propósito do desenvolvimento é fruto da sabedoria de sua majestade o quarto Rei, nascida da sua dedicação de entender, articular e preencher os desejos mais profundos dos seu povo. O FIB serviu como o principal motivador e base para todas as políticas e ações durante o seu glorioso reinado de 34 anos. Na medida em que a realidade do nosso insustentável e incompleto modo de vida se torna ominosamente, e de fato, devastadoramente clara no nosso problemático mundo, acredito que o FIB, visto como um paradigma alternativo de desenvolvimento, se tornou mais relevante do que nunca.
Esta ocasião evoca um senso de continuidade, de renovação da solidariedade entre os colegas peregrinos do FIB, e a criação de novos laços de parceria em prol de uma causa nobre. Em particular, estamos muito felizes de ter conosco o Dr. Ron Colman, Diretor do GPI Atlantic, que foi o organizador da marcante 2ª Conferência em Halifax, no Canadá. Aquela conferência atraiu uma ampla atenção das pessoas da América do Norte para o FIB. Estamos igualmente deleitados em dar as boas vindas para Hans e Wallapa, os coordenadores chefes da extremamente bem sucedida 3ª Conferência em Nongkhai, no norte da Tailândia e em Bangkok. Através da conferência de Nongkai e Bangkok, o FIB foi difundido, como as águas da Mãe Mekong (grande rio da Ásia), através dos países no delta do Mekong.
O movimento e as ações práticas que essas conferências geraram ainda estão respingando através dos locais e das sociedades de um modo que nos deixa humildes. Vocês ficarão satisfeitos, assim como seu estou, de serem informados que o local e o cicerone para a nossa próxima conferência já foram escolhidos. Por favor, dêem as boas vidas à Dra. Susan Andrews, do Brasil, que será uma grande colaboradora na realização da 5ª Conferência Internacional sobre FIB no Brasil. Meu único pedido a esta altura é que nos tornemos mais focados na tradução dos conceitos do FIB em claras políticas públicas.
Para a organização de todas as conferências sobre o FIB o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) foi um parceiro excepcionalmente generoso e disponível. A vocês, do PNUD, vai o crédito de do interesse cada vez mais amplo pelo FIB, e a crescente convicção da urgente necessidade de se encontrar uma alternativa para o nosso ganancioso, explorador, e insaciável estilo de vida, ditado pela nossa fé na infalibilidade das forças do mercado, as quais, por sua vez, extraem seu poder da ambrosia do consumismo.
É muito encorajador observar como que aspectos do FIB estão sendo implementados de baixo para cima, de uma forma não centralizada, em muitas comunidades locais ao redor do mundo. Grandes mudanças de governos em prol do reconhecimento daquilo que seja o verdadeiro progresso, e de como este deve ser medido, podem de fato somente acontecer quando cidadãos e organizações, dispersos como são, agem em uníssono e convergentes, impulsionados por uma nova consciência. Tais ações estão sendo estimuladas pelas colaborativas atividades de instituições de pesquisa de vanguarda pelo mundo, as quais estão sendo respaldadas por pessoas e líderes iluminados.
Sem ser complacente, seria benéfico que intensificássemos a colaboração internacional nas mensurações, enquanto enfatizássemos a necessidade de se manter o foco na formulação de aplicações práticas em termos de projetos e programas enraizados nos locais onde o verdadeiro povo se encontra, e onde as genuínas e significativas mudanças de base devam acontecer. Nesse sentido, parece que é mais fácil desenvolver medidas ou indicadores de progresso para o FIB do que formular abordagens que possam de fato reformar ações de políticas públicas.
A questão com todas as tentativas de se medir o desenvolvimento holístico é a de persuadir a reconfiguração das políticas públicas, a reestruturação ou a reorientação das instituições, e a transformação do comportamento humano.
Para esse fim, talvez até que tenhamos que ser suficientemente corajosos para sugerir alternativas às políticas concorrentes, através das quais os propósitos comuns e as visões são freqüentemente derrotadas pelas convencionais divisões de esquerda versus direita, a favor-do-mercado versus socialismo, cálculos eleitorais versus interesses de longo prazo. Enquanto que todos reconhecem a globalização e a realidade da "aldeia global", as políticas públicas em todos os níveis precisam transcender as perspectivas paroquiais, nacionais e regionais para responder aos problemas globais, tais como a exaustão dos compartilhados recursos naturais e a erosão da consciência ética e moral. Mesmo que aceitemos as democracias como parte da solução, precisamos nos dar conta daquilo que a filósofa Onora O'Neill disse: "A democracia pode nos mostrar aquilo que é politicamente legítimo; não pode mostrar o que é eticamente justificável".
Eu ouso até dizer que o vocabulário e a arquitetura contemporâneos da governança não estão em perfeita harmonia com a governança para o FIB. Práticas baseadas nas mensurações do FIB irão, tenho certeza, requerer alterações nas estruturas tradicionais de governo, nos objetivos e normas administrativas. Para começar, as ferramentas e os critérios para a seleção dos projetos e dos programas devem estar alinhados com o FIB. Em seguida, vem a questão dos critérios decisórios quanto a como se usar o orçamento público, visando o bem público. Esses critérios necessitam de uma revisão, bem como o que é que se entende por "bem público". Parece que a felicidade, enquanto bem público, não consta como sendo o resultado intentado da maioria dos gastos públicos. Todavia, o que então não irá mudar é o desafio de política pública que vise melhorar o bem-estar do indivíduo sem comprometer o bem-estar do coletivo e vice-versa. Mas como se obtém esse judicioso equilíbrio entre os dois? Haverá aí uma dicotomia?
Enquanto que essa augusta reunião discute o tema da prática e da mensuração do FIB, eu convido vocês para que ponderem as muitas perguntas que me assombram. Como que se pode criar uma sociedade iluminada na qual os cidadãos sabem que a felicidade individual é fruto da felicidade e ação coletivas -- que a duradoura felicidade está condicionada pela felicidade dos indivíduos à sua volta -- e que se esforçar pela felicidade dos outros é o caminho mais seguro para se desfrutar de experiências gratificantes que trazem a verdadeira e duradoura felicidade? Como poderemos persuadir as pessoas para que adotem um novo paradigma ético que rejeite o consumismo? Como poderemos convencê-las de que o paradigma de crescimento ilimitado num mundo finito não é apenas insustentável e injusto com as futuras gerações, mas também espreme para fora as nossas buscas sociais, culturais, estéticas e espirituais?
Até mesmo a justificativa para crescimento econômico visando mitigar a pobreza soa demasiado dúbia, a menos que radicalmente melhoremos a distribuição de renda. Vergonhosamente pouco da mitigação da pobreza vem da enorme riqueza gerada na economia global agregada. O mesmo se aplica ao argumento de que precisamos crescer de modo que haja dinheiro para consertar os problemas ambientais. Acreditar nisso é acreditar em matar o paciente para curar a doença. Evidências de que precisamos crescer economicamente para sermos coletivamente mais felizes são até mais escassas nos países ricos. Bem, então como se pode advogar um novo conceito de produtividade, riqueza, prosperidade e plenitude, que têm pouco a ver com possessões materiais e com a marginalização dos mais frágeis, e mais a ver com o bem-estar social, psicológico e emocional?
Será que é suficiente sabermos como medir a felicidade, e esperar que isso irá influenciar a formulação de políticas públicas? Será suficiente formular políticas públicas baseadas no FIB? E o que dizer da vontade e capacidade políticas, considerando o fato que esses aspectos, numa democracia, são respostas condicionadas por demandas e aspirações populares? Logo, se as pessoas não forem capazes de compreender e favorecer as políticas públicas baseadas em FIB, será que os políticos ousarão? E se eles ousarem, será que serão bem sucedidos? Como podemos começar esse processo? Como podemos internalizar, além do questionamento intelectual e das declarações, os valores dos quais falamos? Como que nós, enquanto acadêmicos, pensadores, cientistas, líderes e responsáveis cidadãos, podemos mudar nosso modo de vida e comportamento?
Estou chegando agora ao final do meu humilde discurso. A sabedoria tradicional nos diz que novas idéias e novos pensamentos emergem do caos e da devastação. Se o FIB precisa ser a nova ordem, então a antiga ordem parece estar sucumbindo, conforme se manifestam as múltiplas crises que estão testando a relevância e a sustentabilidade da ordem prevalecente. As crises financeira, energética e alimentícia, bem como as calamidades naturais com magnitudes e freqüências jamais vistas, creio eu, soam os sinais de alarme para nos avisar que devemos nos afastar do modo de vida que temos até agora adotado.
Grato pela paciência.
Tashi Delek! – Que prevaleça o melhor do melhor.
Carta de Susan Andrews sobre o Discurso do Primeiro Ministro de Butão
Querido(a)s,
Acima, os trechos mais importantes do discurso do Primeiro Ministro do Butão na 4ª Conferencia Internacional do FIB. Acho que vocês vão apreciar, como eu, a profundidade e a sabedoria das suas idéias.
Para vocês que quiserem se aprofundar mais no conceito do FIB, e especialmente aqueles que quiserem colocá-lo em prática em 2009, seria útil formar grupos de discussão e tentar responder as seguintes perguntas do Primeiro Ministro:
"Como que se pode criar uma sociedade iluminada na qual os cidadãos sabem que a felicidade individual é fruto da felicidade e ação coletivas -- que a duradoura felicidade está condicionada pela felicidade dos indivíduos à sua volta -- e que se esforçar pela felicidade dos outros é o caminho mais seguro para se desfrutar de experiências gratificantes que trazem a verdadeira e duradoura felicidade? Como poderemos persuadir as pessoas para que adotem um novo paradigma ético que rejeite o consumismo? Como poderemos convencê-las de que o paradigma de crescimento ilimitado num mundo finito não é apenas insustentável e injusto com as futuras gerações, mas também espreme para fora as nossas buscas sociais, culturais, estéticas e espirituais?.....Como se pode advogar um novo conceito de produtividade, riqueza, prosperidade e plenitude, que têm pouco a ver com possessões materiais e com a marginalização dos mais frágeis, e mais a ver com o bem-estar social, psicológico e emocional?
Será que é suficiente sabermos como medir a felicidade, e esperar que isso irá influenciar a formulação de políticas públicas?.....E o que dizer da vontade e capacidade políticas, considerando o fato que esses aspectos, numa democracia, são respostas condicionadas por demandas e aspirações populares? Logo, se as pessoas não forem capazes de compreender e favorecer as políticas públicas baseadas em FIB, será que os políticos ousarão? E se eles ousarem, será que serão bem sucedidos? Como podemos começar esse processo? Como podemos internalizar, além do questionamento intelectual e das declarações, os valores dos quais falamos? Como que nós, enquanto acadêmicos, pensadores, cientistas, líderes e responsáveis cidadãos, podemos mudar nosso modo de vida e comportamento"?
Nas respostas a essas perguntas está a formação da nova sociedade que todos nós almejamos.
um grande abraço do coração,
Susan Andrews
NOTÍCIAS DO BUTÃO !
Queridos Amigo(a)s,
Acabei de chegar da 4ª Conferência Internacional sobre Felicidade Interna Bruta – FIB - no Butão, e quero lhes contar as boas novas.
O programa começou com a entrada ceremonial do 1º ministro do Butão, um ritual de fogo, tambores e uma benção com entoação de mantras. Em seguida ele proferiu seu discurso de abertura (que foi bastante eloqüente e importante; faremos uma tradução do mesmo e o disponibilizaremos no blog do FIB). Depois de algum tempo ele se referiu às conferências internacionais anteriores, que aconteceram no Butão, no Canadá e na Tailândia, para em seguida, num tom dramático, anunciar, “e vocês ficarão muito felizes, assim como eu estou, em saber que o local e o cicerone da nossa próxima conferência em 2009 já foram escolidos......” Quando ele pausou, eu curiosamente olhei através do auditório, onde estavam os representantes de diversos países, para saber onde essa próxima conferência poderia acontecer. Seria no Japão? Ou quem sabe na Austrália? Mas subitamente ele olhou diretamente para mim e concluiu “....Será organizado pela Dra. Susan Andrews, no Brasil!”. Todos começaram a aplaudir, e eu fiquei de pé, num estado de choque! Ninguém havia me informado previamente sobre essa decisão! Aparentemente as autoridades do Butão ficaram muito impressionadas com os entusiásticos relatórios sobre o Brasil feitos pelo Dasho Karma Ura – ele realmente adorou os brasileiros – e decidiram transformar a nossa reedição de uma conferência regional no ano que vem na própria conferência global!
Bem, felizmente alguns amigos nossos da Itaipu Binacional já haviam lançado a possibilidade de fazermos a nossa próxima conferência regional com eles. Após uns apressados telefonemas do Butão ao Brasil, o próximo evento internacional sobre FIB foi definido para acontecer em Itaipu, de 20 a 23 de Novembro de 2009. De 6ª a domingo (dias 20 a 22) serão os dias para a conferência propriamente dita, e o dia 23 será para turismo nas cataratas, no parque nacional etc. Espero que vocês todos participem – será uma oportunidade única para interagir com pessoas fascinantes de todas as partes do mundo.
Voltando ao Butão, depois da conferência, tive uma audiência com o 1º ministro, e ele demonstrou muito interesse em vir para esse evento no Brasil. Numa das tardes os delegrados foram convidados para um almoço no palácio real, e fomos recebidos pelo recém coroado rei de 27 anos, “o mais cobiçado solteiro da Ásia”. De fato, ele é ainda mais bonito e carismático em pessoa do que nas fotos. Não apensas charmoso e gracioso, mas com uma aura de dignificante pureza que é inesquecível. Quando fui apresentada a ele, antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, ele disse, “Ouvi dizer que a próxima conferência sobre FIB será no Brasil! Espero que isso me dê a oportunidade de comparecer!”. O Dasho Karma Ura me disse que se o rei for oficialmente convidado, ele provavelmente viria. Logo, se alguém por aí tem algum contato no Ministério de Relações Exteriores para fazer o convite, por favor nos avise!
Durante a Conferência aconteceram também extensas e detalhadas discussões sobre as aplicações práticas do FIB, ajustamentos nos levantamentos, a certificação com o PNUD, etc. Lhes informarei sobre tudo isso logo que possível, num futuro comunicado. O foco foi o de que neste momento crítico da crise mundial, nós deveríamos colocar o FIB em prática o quanto antes.
Por isso, se algum de vocês estiver seriamente interessado em aplicar o FIB numa comunidade específica durante o primeiro semestre de 2009, por favor nos avise, de modo que possamos nos encontrar para planejar a operacionalização desse holístico novo paradigma, que está semeando esperança em tantos corações.
Com os melhores votos a todos vocês, Tashi Delek – “Que o melhor do melhor prevaleça”.
Susan Andrews
DASHO KARMA URA EXPLICA O FIB
Dasho Karma Ura, Mestre em Pólítica, Filosofia e Economia pela Universidade de Oxford, Inglaterra, e vice-presidente do Conselho Nacional do Butão. Presidente do Centro para os Estudos do Butão fundado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) para formular as análises estatísticas do FIB.
ORIGEM do FIB
O atual rei do Butão, 5º na história do país, proclamou que a materialização da visão do FIB será uma das quatro principais responsabilidades do seu reinado. A meta última que norteará as mudanças sociais, econômicas e políticas no Butão será o FIB –Felicidade Interna Bruta. Sua Majestade o Rei disse que uma sociedade baseada no FIB significa a criação de uma sociedade iluminada, na qual a felicidade e o bem estar de todas as pessoas e de todos os seres sencientes é o propósito último da governança. Em abril de 1986, a frase, com estas exatas palavras: “Felicidade Interna Bruta é mais importante do que Produto Interno Bruto” foi cunhada por Sua Majestade o 4º Rei do Butão, que é o autor do conceito do FIB. O que ele disse, nos anos 1970 e 1980, quanto ao PIB ser canalizado na direção da felicidade, foi algo bastante inédito, senão revolucionário. Agora, 20 a 30 anos depois, as opiniões ao redor do mundo estão começando a convergir no sentido de tornar a felicidade uma meta sócio-econômica coletiva.
POR QUÊ O PIB É INADEQUADO PARA MEDIR O BEM-ESTAR?
Em primeiro lugar, vamos assinalar que o PIB é parte integrante do FIB, uma vez que o crescimento econômico de fato promove o bem-estar e a felicidade dos mais pobres. Todavia, diversas deficiências do PIB também precisam ser reconhecidas.
Falta de distinções de natureza qualitativa
Existem muitos modos de se atingir o mesmo nível de PIB, que por si só não se importa, ou registra, se a riqueza foi gerada através de prostituição ou de meditação, ou mesmo se foi obtida se maneira estressante ou prazerosa.
Propensão ao Consumo
O PIB é uma acurada métrica para se determinar tudo aquilo que é produzido e consumido através de transações monetárias. Entretanto, se algum bem for deliberadamente conservado e não consumido, então esse bem deixa de ser registrado como um valor. Como resultado disso, existe uma tremenda inclinação voltada ao consumo na adoção do PIB. Um trator que está simplesmente largado numa fazenda é contabilizado como uma riqueza, e certamente que um tigre numa floresta deve ter mais valor do que um trator, porém, sob a ótica do PIB, não é isso que ocorre. Este mede muito bem o capital produzido, mas não mede outras formas de capital e serviços, tais como aqueles providos pelo meio ambiente, humanos e sociais.
Sub-valoriza tempo livre e trabalho não remunerado
O PIB não mede o tempo livre e nem tampouco o trabalho voluntário, não remunerado, revelando um sério preconceito contra trabalho voluntário e lazer. Todavia, o trabalho não remunerado e voluntário contribui para a felicidade e o bem-estar. Cuidar de crianças e idosos, bem como o trabalho doméstico, são serviços não remunerados que se dão à margem das transações do mercado. Essas atividades não estão precificadas, e são executadas por aqueles cuja motivação está acima do ganho financeiro.
Justiça Econômica
Embora a desigualdade possa ser medida separadamente por um índice específico para esse fim, o PIB em si é cego para a injustiça econômica. Durante o nosso consumo de bens e serviços, a métrica daquilo que nos proporciona felicidade é relativa, em comparação àquilo que os outros estão consumindo. Se a comparação afeta o nosso bem-estar subjetivo, a desigualdade continuará a ter um poderoso efeito negativo na felicidade enquanto uma desigual distribuição da riqueza persistir. Sempre haverá alguém acima na escada, e um modo de se neutralizar esse efeito negativo é de se atingir um alto grau de igualdade.
Importância dos serviços pós-materiais.
Uma vez que um certo nível de riqueza foi alçanda, como por exemplo, na Europa e no Japão, o objetivo das pessoas não são bens, mas em vez disso aquilo que está se chamando de “serviços pós-materiais que transcendem os bens”. Um aumento desses serviços está mais provavelmente influenciado pelo imaterial, que vem de fatores como família, amigos, segurança, redes sociais, liberdade, criatividade, significado para a vida e assim por diante. Esses benefícios das sociedades pós-industriais não necessariamente aumentam com a renda.
O QUE É FELICIDADE?
Bem público, porém subjetivamente sentido
A felicidade é, e deve ser, um bem público, já que todos os seres humanos almejam-na. Ela não pode ser deixada exclusivamente a cargo de dispositivos e esforços privados. Se o planejamento governamental, e portanto as condições macro-econômicas da nação, forem adversos à felicidade, esse planejamento fracassará enquanto uma meta coletiva. Os governos precisam criar condições conducentes à felicidade, na qual os esforços individuais possam ser bem sucedidos.
A política pública é necessária para educar os cidadãos sobre a felicidade coletiva. As pessoas podem fazer escolhas erradas, que por sua vez podem desviá-las da felicidade. Planejamentos de política pública corretos podem lidar com tais problemas, e reduzi-los, impedindo assim que ocorram em larga escala.
Felicidade baseada em estímulos externos
Nossa compreensão de como a mente obtém felicidade afeta a nossa experiência com a mesma, ao influir nos meios que escolhemos para a sua busca. Em alguns ramos das ciências comportamentais, a mente é concebida como um aparato de entrada-saída, que responde apenas aos estímulos externos. Uma conseqüência deste modelo é que as sensações prazerosas e de felicidade são vistas como dependentes somente em estímulos externos. Felicidade é percebida como uma conseqüência direta dos prazeres sensoriais. Com tal excessiva ênfase nos estímulos externos como a fonte de felicidade, não é de se surpreender que os indivíduos sejam levados a acreditar que, ao serem materialistas, serão mais felizes.
Métodos de contemplação interior
Mas existe uma tradição que aponta um caminho oposto à busca da felicidade baseada em estímulos externos, e que mostra que sensações prazerosas serão geradas ao se bloquear a entrada dos estímulos sensoriais externos e calando-se o palavrório mental. Isso requer a prática regular de técnicas de meditação, através das quais o indivíduo experiencia o sujeito em si, em vez do sujeito experienciar os estímulos externos.
Ao se utilizar um método contemplativo, não há nada externo que possa se constituir num insumo para felicidade. Desde que seja praticada de forma disciplinada e regular, a meditação pode levar à mudanças na estrutura mental (nas redes neurais), fazendo com que a calma e o contentamento sejam traços perenes da personalidade. Em outras palavras, as faculdades mentais podem ser treinadas em direção à felicidade.
Quando essa visão é aplicada, economias atualmente consideradas estacionárias, estáveis e sustentáveis, podem ser consideradas bem sucedidas. Uma economia cujo PIB cresce continuamente, a uma taxa ambientalmente insustentável, pode ser vista como um fracasso, devido à sua incapacidade de promover o desapego da proliferação de desejos. Em função disso, as pessoas são levadas de roldão no processo. Uma economia estacionária pode sinalizar que estabilidade psicológica quanto aos desejos foi alcançada entre os consumidores.
INDICADORES E MENSURAÇÃO DO FIB
O Governo Real do Butão está formulando índices para o FIB, que irão avaliar, rastrear e guiar o planejamento do desenvolvimento do nosso país. Os índices FIB de nível macro podem ser sub-divididos em numerosos sub-indicadores que são úteis em diversos fatores.
Além disso, o Butão desenvolveu uma estrutura qualitativa conhecida como “lentes de FIB” para políticas e programas que têm por finalidade filtrar atividades segundo o ponto de vista do FIB.
Para se considerar um indicador como sendo válido segundo o FIB, ele deve demonstravelmente ter influência positiva ou negativa na felicidade. E os indicadores de FIB devem cobrir tanto as esferas objetivas quanto as subjetivas das dimensões do FIB, conferindo pesos idênticos tanto para os aspectos funcionais da sociedade humana como para o lado emocional da existência da mesma. A voz subjetiva, que tem sido relativamente sufocada nas ciências sociais como um todo, e nos indicadores em particular, está sendo restaurada nos indicadores do FIB, e isso está produzindo uma equilibrada representação de dados entre o objetivo e o subjetivo. Obviamente que a distinção entre o subjetivo e o objetivo não representa, em qualquer sentido fundamental, aquilo que é básico para natureza da realidade, que é na verdade o inter-relacionamento de ambos.
De uma forma mais geral, a descrição dos indicadores para o FIB pode ser expressa usando um ícone tradicional, a roda. No centro da roda se situa o cubo da mesma. Similarmente, a meta última do FIB é o bem-estar, a felicidade e a satisfação com a vida, aquilo que é o verdadeiro potencial na sociedade humana que buscamos atingir.
Os meios para se atingir essa meta são os raios da roda. No caso do FIB, esses raios representam os domínios, tais como o raio da educação, o raio da boa saúde, o raio do uso equilibrado do tempo, o raio da cultura, o raio da boa governança, o raio da vitalidade comunitária, o raio da resiliência ecológica, e o raio do componente material da existência – o padrão de vida.
PSICOLÓGICO
O domínio do bem estar psicológico abrange o contentamento, a satisfação com todos os elementos da vida, e a saúde mental. Uma vez que felicidade coletiva é a meta principal sob uma sociedade baseada no FIB, o bem estar psicológico é de primordial importância para medir o sucesso do estado em prover as políticas e os serviços apropriados. Entre inúmeros indicadores, a prevalência de taxas de emoções tanto positivas quanto negativas, o estresse, as atividades espirituais, o desfrute da vida, a satisfação com a vida, a auto-avaliação da saúde – seja física quanto mental – são calculados na população.
USO DO TEMPO
Tem se demonstrado que o domínio do uso do tempo é uma das mais eficazes janelas para qualidade de vida, uma vez que ele analisa a natureza do tempo que é despendido num período de 24 horas, bem como as atividades que tomam períodos de tempo mais longos. Uma importante função do uso do tempo é reconhecer o valor do lazer. Os laços sociais criados e compartilhados na socialização com a família e com os amigos contribuem significativamente para todos os níveis de felicidade e contentamento numa sociedade.
SAÚDE
Os indicadores de saúde avaliam o status de saúde da população, os fatores determinantes da saúde e o sistema de saúde em si. Os indicadores de status de saúde incluem a auto-avaliação da saúde, invalidez, as limitações para atividades e a taxa de dias saudáveis. Os indicadores dos fatores determinantes de saúde incluem padrões de comportamento arriscados, exposição a condições de risco, status nutricional, práticas de amamentação e condições de higiene. O sistema de saúde, que incluí tanto o sistema ocidental quanto o nativo, é medido a partir do ponto de vista da satisfação do usuário em diversas dimensões, tais como amabilidade do provedor, competência, tempo de espera, custo, distância etc.
EDUCAÇÃO
A educação contribui para o conhecimento, valores, criatividade, competências, capital humano e sensibilidade cívica dos cidadãos. Um domínio tal como o da educação não tem por objetivo meramente medir o sucesso da educação per se, e sim tentar avaliar a eficácia da educação quanto a se trabalhar em prol da meta do bem estar coletivo. O domínio da educação leva em conta vários fatores, tais como: participação, competências e apoio educacional, entre outros. Esse domínio inclui no seu escopo a educação informal (competências nativas, técnicas tradicionais orgânicas de agricultura e pecuária, remédios caseiros, genealogias familiares, conhecimento sobre a cultura e história locais), e educação monástica.
DIVERSIDADE E RESILIÊNCIA CULTURAL
A manutenção das nossas tradições culturais é uma das fundamentais metas de política pública do nosso país, já que reconhecemos o valor das tradições da diversidade cultural na formação da identidade, nos valores e na base criativa para o nosso futuro. O domínio da cultura leva em conta a diversidade e o número de instalações culturais, padrões de uso e diversidade no idioma e participação religiosa. Os indicadores estimam valores nucleares, costumes locais e tradições, bem como a percepção de mudanças em valores e tradições.
BOA GOVERNANÇA
O domínio da governança avalia como que as pessoas percebem várias funções governamentais em termos da sua eficácia, honestidade e qualidade. Os temas desses indicadores incluem liderança em vários níveis do governo, na mídia, no judiciário, na polícia e nas eleições.
VITALIDADE COMUNITÁRIA
O domínio da vitalidade comunitária foca nas forças e nas fraquezas dos relacionamentos e das interações nas comunidades. Ele examina a natureza da confiança, da sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, a prática de doação e de voluntariado. Esses indicadores possibilitarão aos formuladores de política pública rastrear as mudanças nos efeitos adversos para a vitalidade comunitária.
DIVERSIDADE E RESILIÊNCIA ECOLÓGICA
Ao focar no estado dos nossos recursos naturais, nas pressões sobre os nossos ecossistemas, e nas diferentes respostas de gestões, o domínio da diversidade e resiliência ecológica descreve o impacto do suprimento doméstico e a demanda nos ecossistemas do Butão.
PADRÃO DE VIDA
O domínio do Padrão de Vida cobre o status econômico básico dos cidadãos do país. Esses indicadores avaliam os níveis de renda ao nível individual e familiar, medem a segurança financeira, o nível de dívidas, a qualidade das habitações, e o montante de assistência em espécie recebida por familiares e amigos.
DESENVOLVIMENTO HOLÍSTICO
É nossa expectativa que os esforços na direção da elaboração de um índice de FIB possam prover não apenas para o Butão, mas também para o resto do mundo, um valioso conjunto de indicadores que possa ser utilizado para tornar os esforços em prol do desenvolvimento mais holísticos e harmoniosos quanto as suas metas e meios.M
FIB e O OCIDENTE - palestra de Michael Pennock
Junho de 2007: Medindo e Encorajando o Progresso das Sociedades
• OECD
• Comissão Européia
• Organização Para a Conferência Islâmica
• Nações Unidas
• Banco Mundial
Em junho de 2007 uma importante conferência aconteceu, contando com a participação algumas das mais conhecidas organizações internacionais. A conclusão foi o reconhecimento da urgente necessidade de noções mais compreensivas e equilibradas sobre o que é progresso.
DECLARAÇÃO CONJUNTA CONFIRMADA
“Comprometimento para medir e encorajar o progresso das sociedades nas suas dimensões, e de apoiar iniciativas ao nível do país. Instamos para que IPOBE, organizações públicas e privadas, e especialistas acadêmicos trabalhem junto com os representantes das comunidades para produzir informações de alta qualidade, baseadas em fatos, que possam ser usadas por toda a sociedade, para formar uma visão compartilhada do bem estar da mesma, e sua evolução ao longo do tempo. Convidamos tanto as organizações públicas quanto privadas para que contribuam com esse ambicioso esforço de fomentar o progresso do mundo, e damos as boas-vindas às iniciativas em níveis local, regional, nacional e internacional”.
A conferência resultou numa declaração conjunta, enfatizando a necessidade de novas estruturas e medidas de progresso – em níveis locais, regionais, nacionais e internacionais. Que organizações tais como a OECD e o Banco Mundial tenham reconhecido as nossas tradicionais limitações de progresso é, provavelmente, a admissão da seriedade dos problemas que enfrentamos. Reconheceu-se que nossa dependência em tais medidas econômicas do tipo do PIB – Produto Interno Bruto – como sendo um dos principais sinalizadores de progresso, é uma prática que precisa ser alterada.
AUMENTO DA RENDA, DECLÍNIO DA FELICIDADE
Nos últimos anos, mesmo com o aumento do PIB em vários países, o percentual de canadenses que relata estar muito satisfeito com suas vidas não tem se alterado. E nos EUA e na Inglaterra, dois dos mais próximos parceiros internacionais do Canadá, o percentual de pessoas que admitiu estar muito satisfeito com a vida declinou durante o período.
Em muitos dos países desenvolvidos…
A prosperidade aumentou
O capital social diminuiu
Bem-estar/felicidade não aumentou
E….
Ocorreram imensos custos ambientais na busca pela prosperidade
Logo, algumas conclusões ficam evidentes: em alguns dos países desenvolvidos, nossa prosperidade tem aumentado ao mesmo tempo em que o capital social tem se deteriorado, e a felicidade permaneceu achatada ou declinou. Essas tendências são particularmente devastadoras se for considerada a “taxa” que foi cobrada pelo progresso no meio-ambiente.
ECONOMISTA JOHN HELLIWELL: FATORES DETERMINANTES PARA O BEM-ESTAR
O economista John Helliwell, da Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá, em 2003 concluiu que pessoas com o mais alto bem-estar “não são aquelas que vivem nos países mais ricos, e sim aquelas que vivem onde as instituições sociais e políticas são eficazes, onde a confiança mútua é alta, e onde a corrupção é baixa”. Ele conclui que são esses os mais importantes fatores determinantes para o bem-estar nacional, mais do que a prosperidade nacional.
POR QUÊ ESSA CRENÇA?
Por quê essa crença que liga prosperidade a bem-estar é tão profundamente arraigada?
Se a correlação entre prosperidade e bem-estar foi super-estimada, por quê isso aconteceu?
ILUSÃO QUE FOCA
• Daniel Kahneman-Universidade de Princeton
• “Quando as pessoas consideram o impacto de qualquer fator isoladamente no seu bem-estar – não apenas renda – elas são propensas a exagerar a importância da mesma. Nos referimos a essa tendência como a “ilusão que foca”…. A despeito da frágil relação entre renda e satisfação geral com a vida ou a felicidade experienciada, muitas pessoas são altamente motivadas a aumentar sua renda.”
O psicólogo Daniel Kahneman, da Universidade de Princeton, ganhador de um Prêmio Nobel de Economia denominou isso de “Ilusão que Foca”. Kahneman argumenta que tendemos a ignorar todos os demais fatores que estão presentes na nossa vida (sejam eles “bons” ou “maus”) quando consideramos os efeitos como fatores isolados, tais como um aumento na renda. Por exemplo, um aumento na renda pode implicar em ter que se trabalhar por mais longas horas, lidar com conflitos de família x trabalho, redução na vida social etc. Ao se focar nos benefícios de “mais renda” podemos ignorar esses efeitos em outros fatores até que estes passem a afetar negativamente nossas vidas.
O QUE FOI QUE APRENDEMOS?
A partir de um certo ponto, em muitas nações desenvolvidas, aumentos em prosperidade não trazem aumentos em felicidade e bem-estar.
Parecem corresponder a uma diminuição do capital social
E também envolvem substanciais conseqüências ambientais
PRECISAMOS REPENSAR NOSSAS NOÇÕES BÁSICAS DE PROGRESSO
Mas então o que foi que aprendemos disso tudo? Aprendemos que, a partir de um certo ponto, na maioria dos países desenvolvidos, um aumento na prosperidade não está associado com aumento de felicidade e bem-estar. Contudo, está associado com diminuição de capital social e implica numa substancial degradação ambiental.
O PIONEIRO BUTÃO
Felizmente temos um pioneiro – o Butão. Ocorre que este é um tema que já recebeu sistematicamente muita atenção naquele pequeno país. Lá eles começaram a fazer essa pergunta, e a buscar respostas, há cerca de vinte anos. Como resultado, os butaneses estão bem na dianteira quando comparados com o resto do mundo.
ESTRUTURA CONCEITUAL DO FIB
O FIB foi articulado através de 3 conferências que reuniram economistas e cientistas empíricos para identificar os principais determinantes da felicidade
Essa convocação foi assumida pelo Centro dos Estudos do Butão. Fomos muito afortunados por isso acontecer, porque o diretor do centro, Dasho Karma Ura, estava determinado a imprimir uma abordagem totalmente científica na identificação dos fatores primordiais que contribuem para a felicidade e o bem-estar da população do seu país. Tem até havido conferências internacionais que reuniram estudiosos e pesquisadores empíricos do mundo todo, para que fosse desenvolvida uma estrutura baseada em evidências. E aqui eu realmente gostaria de enfatizar o seguinte ponto – a estrutura conceitual do FIB não é um constructo religioso. Trata-se sim de uma estrutura baseada na ciência e no empirismo. Quanto a isso precisamos agradecer o Dasho Karma Ura e o Centro dos Estudos para o Butão, pois, na medida em que nós, ocidentais, estamos buscando melhores estruturas conceituais para o progresso, agora podemos nos apoiar no trabalho que já foi feito por eles.
NA INGLATERRA
políticas especificamente focadas no “bem-estar”
“Um foco no bem-estar encoraja a integração das políticas social, econômica e ambiental que permitam a saúde social ser examinada como algo em si mesma, em vez de ser incluída sob o crescimento econômico”.
Um dos países ocidentais que assumiu um compromisso muito sério com esse tema, envolvendo até os escalões mais elevados do governo, é a Inglaterra. Os ingleses articularam um foco de política pública voltado para o bem-estar. Em outras palavras, todas as políticas públicas precisam ser ponderadas em relação aos seus respectivos impactos no bem-estar.
BENEFÍCIOS DO FIB
Um novo modelo de progresso que fornece uma estrutura de política pública unificada, e que acomoda todos os setores
Enfatiza o equilíbrio entre todos os fatores contribuintes, mas a felicidade tem a primazia
Nenhum dos setores é priorizado em relação aos demais, todos têm fatores determinantes de valor
PRECISAMOS DE MENSURAÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS
Objetivas: Observáveis, contabilizáveis
Subjetivas: Levantamento de FIB
ÍNDICE CANADENSE DE BEM-ESTAR
Um outro exemplo é Índice Canadense de Bem-Estar (ICBE), que atualmente está sendo desenvolvido. O objetivo desse índice é o de vir a ser um indicador nacional que incorpore tanto os dados objetivos como subjetivos. As dimensões empregadas são de certo modo diferentes do Indicador de Genuíno Progresso (IGP). O ICBE tem uma dimensão ambiental (saúde do ecossistema) e um forte foco na saúde, no capital social e na cultura. Como leitor poderá avaliar, o ICBE se assemelha mais à estrutura conceitual do FIB.
VERSÃO INTERNACIONAL DO FIB
Mais curta para ser preenchida (30 minutos)
Genérica – trans-cultural
Baseada no levantamento butanês
Incorpora lições aprendidas do levantamento GPI-Atlantic na Nova Escócia
Uma versão internacional do levantamento está sendo desenvolvida. Ela baseia-se na estrutura conceitual do FIB, usa muitos dos principais itens do levantamento butanês, e também incorpora algumas lições aprendidas a partir do uso de um levantamento semelhante, que foi desenvolvido pelo IGP Atlantic (Índice de Genuíno Progresso do Atlântico), e usado em duas comunidades na Nova Escócia. Essa versão pode ser auto-gerida, é transcultural, e leva apenas de 20 a 30 minutos para ser preenchida.
PRÓXIMOS PASSOS
Lentes de política pública para estimar o impacto de potenciais políticas na felicidade/bem-estar da sociedade
Avaliações quanto aos impactos da felicidade
Desenvolvimento de mensurações objetivas em níveis nacionais e locais
Pelo fato do FIB incluir medidas subjetivas, existe um contínuo interesse no desenvolvimento de outras ferramentas para política pública, tais como lentes e métodos para conduzir avaliações de impacto.
O QUÊ ESTÁ ACONTECENDO?
Butão – CEB e Comissão do FIB
Canadá – Medidas feitas em Comunidades e ICBE
Tailândia – Avaliação de Impacto na Saúde
Inglaterra – Avaliação de Impacto no bem-estar mental
Brasil...?
E o que precisamos fazer? Penso que estamos no início de um período muito estimulante. Precisamos desenvolver e usar ferramentas que meçam o bem-estar ou a felicidade, bem como seus respectivos fatores contribuintes. E precisamos medi-los nos níveis nacional, regional e local, se é que estamos dispostos a mobilizar a capacidade das comunidades de apoiar novas direções para o desenvolvimento. E precisamos de ferramentas de política pública, tais como “lentes de política”, que possam ser usadas para fazer avaliações de impacto na felicidade, de modo que possamos ser mais competentes ao assegurar que tais políticas irão de fato promover a felicidade. Existem alguns bem interessantes “começos” que estão sendo deflagrados ao redor do mundo, mas, como disse, são apenas “começos”. Precisamos trabalhar em conjunto, para gerar suficiente impulso, e com isso manter esse movimento avançando.
MAIS DO QUE TUDO....
Precisamos de colaboradores internacionais, para que todos possamos aprender uns com os outros
E promover o FIB dentro das nossas jurisdições
.
CARTA DE MICHAEL PENNOCK
Olá Susan,
A Martha e eu estamos tendo agora a chance de “recuperar o fôlego” após aquela muito interessante e intensa semana que passamos com você. Gostaria apenas de reiterar alguns dos pensamentos que compartilhamos nas poucas ocasiões que tivemos para conversar.
1. Acho que é muito importante que você prossiga sistemática e estrategicamente. A energia que foi gerada nas suas sessões pode ser uma “benção de dois gumes”. Havia tanto entusiasmo que há o risco de que o conceito do FIB seja aplicado de tantas diferentes formas, e com tantos diferentes níveis de intensidade, que poderá se tornar algo banalizado.
2. Acredito realmente que a melhor maneira de proceder seja através de governos locais e empresas, em vez de começar em níveis regional e nacional. Essa é a abordagem que estamos implementando no Canadá. Logo, penso que é muito boa a sua idéia de começar com um município e uma empresa como projetos piloto. A experiência a ser obtida desses exemplos poderia ser usada para desenvolver um “conjunto-de-ferramentas-de-levantamento-via-internet” através do qual outros municípios poderiam então se utilizar da mesma metodologia. Há um considerável interesse aqui na província de Vitória no desenvolvimento de parcerias com municípios brasileiros, e estou muito interessado em discutir isso com você.
3. Nossa discussão quanto aos “próximos passos” continua a fazer sentido para mim – que você venha a desenvolver uma versão brasileira do levantamento, e a use num município e numa empresa. Os bancos de dados resultantes poderiam ser disponibilizados para institutos universitários, objetivando apoiar a contínua pesquisa.
Atenciosamente,
Mike Pennock
Population Health Epidemiologist
Co-Lead, Population and Public Health Observatory
Office of the Chief Medical Health Officer
Vancouver Island Health Authority, Canadá